segunda-feira, 1 de novembro de 2010

LOUVANDO A DEUS COM O CORAÇÃO E A MENTE

Texto Base: Rm 12.1e 2.

INTRODUÇÃO

Quando tratamos de louvor lidamos com um assunto delicado e, ao mesmo tempo, mal compreendido dentro da igreja. Divisões, melindres, desentendimentos são resultados conhecidos em muitos lugares e que partiram desta área específica. Quero tratar deste assunto dentro de uma linha mais prática levando muito mais à conclusões a partir da Bíblia do que opiniões pessoais. Conclusões que possam levar cada um de nós a um louvor verdadeiro, louvor que agrada a Deus, louvor que toma como base a própria revelação dEle.

LOUVOR E VIDA

O texto tomado como referência mostra que a adoração e o louvor tem uma abrangência muito maior do que aquela com qual a maioria dos evangélicos está acostumada a lidar. Louvor não diz respeito somente aos momentos em que entoamos alguns cânticos no culto, mas também está ligado ao fato de que o crente é santuário do Espírito Santo. Desta forma, o louvor não diz respeito somente a alguns minutos de canções, mas a toda nossa vida.

Por isso, Paulo afirma que apresentar os corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, [é] o vosso culto racional. Não apenas isso, seu desafio é o de fazer com que a nossa mente seja transformada a fim de que esse culto seja completo. Logo, louvor, biblicamente falando, é fruto de uma vida segundo a vontade de Deus. É satisfazer aquele que nos salvou através de Cristo.

Como consequência prática, podemos atestar que o louvor proferido através dos cânticos e hinos (ou em qualquer momento do culto) por vidas que não fazem a vontade de Deus não é aquele que o agrada. Ao mesmo tempo podemos inferir que o culto congregacional desorganizado, desanimado, triste é fruto de uma vida da mesma forma. O culto dominical reflete a liturgia da nossa vida.

CORAÇÃO E MENTE

Estamos vivendo uma época em que as emoções são cada vez mais a diretriz da vida das pessoas. A reflexão sobre a verdade diminui enquanto a decisão por impulso irrefletido é estimulada. A propaganda (principalmente dirigidas aos jovens) usa muito deste artifício. Não à toa, Michael Horton diz que no protestantismo os grandes hinos foram substituídos por aquilo que só se pode descrever como imitações de propagandas de televisão. (HORTON, O Cristão e a Cultura, p. 73)

O louvor a Deus é algo muito mais completo e não pode ser levado somente pelas emoções. Ele se expressa tanto por elas (transformadas diga-se de passagem) quanto pela nossa mente (também transformada a fim de julgar todas as coisas, cf. Fp 4.8).

Não há nada de errado em se emocionar ao ouvir uma bela música ou a um concerto musical. Porém, a emoção não é o critério para música de adoração, pois a adoração não é para nós, e sim para Deus.

John MacArthur descreve bem o problema das emoções como guia do louvor ao registrar:

Algumas pessoas acham que este é o verdadeiro propósito do louvor congregacional: elevar as emoções a um fervor intenso. Quanto mais intenso for o sentimento, tanto mais as pessoas se convencerão de que “adoraram” verdadeiramente.
Em tudo isso, não há qualquer ênfase específica no conteúdo das músicas. Cantamos sobre “sentir” a presença de Deus entre nós, como se a elevação de nossas emoções fosse a principal maneira de confirmar a presença dele e de medir a força de sua visitação. Muitos dos cânticos dizem ao Senhor que Ele é grandioso e digno de louvor, mas nenhum deles afirma realmente por quê. Não importa;o objetivo é focalizar nossa mente em qualquer aspecto particular da grandeza de Deus. […]
Em outras palavras, a adoração é intencional e propositalmente antiintelectual. E a música reflete isso.1

Que tipo de música temos cantado e que tipo de adoração queremos prestar a Deus? Que ele tenha misericórdia de nós quando não usamos adequadamente a inteligência que foi concedida somente ao homem e, em especial ao crente que deve ter a “mente de Cristo”.

LOUVOR E ADORAÇÃO PRESCRITOS POR DEUS
O Louvor no culto ou na vida é dirigido a Deus e não ao próprio homem. Contudo, as músicas cantadas nas igrejas hoje, falam mais de nós mesmos do que a respeito de Deus. Somos “ególatras”. Os cânticos passam a refletir um foco autobiográfico, ou seja, minhas experiências, minha decisão, minha obediência, minha felicidade, e assim por diante. Não que essas coisas não sejam importantes e testemunhem do que Deus faz na vida dos crentes, mas, não têm relação com o verdadeiro louvor descrito por Deus e que agrada a Ele como o centro de todas as coisas e, no caso de que estamos discutindo, o centro da nossa adoração. 2

Talvez, um dos grandes problemas esteja no estilo de “imitação” tão propagada nos círculos evangélicos. A ideia “se dá certo lá fora, façamos também aqui dentro” explica o estilo empobrecido e chato de determinadas músicas. Confundindo aquilo que serve para Deus e aquilo que serve para a cultura criada pelo mesmo Deus acabamos por empobrecer os dois lados que devem mostrar a glória do Criador de maneiras diferentes. Exemplos não faltam: contraste as músicas românticas feitas por bandas populares enaltecendo o amor correto entre um homem e uma mulher com as “músicas românticas” evangélicas que falam sobre “deitar no colo de Deus”, “estar apaixonado por Ele”, “querer deitar em seus braços e ser por ele acariciado”. Facilmente se pode concluir quem surgiu primeiro e quem normalmente compõe melhor.

A igreja não tem o propósito de agradar as pessoas em primeiro lugar e seguir os preceitos de canções da cultura, mas de agradar a Deus e seguir os preceitos que Ele mesmo estabeleceu. Veja os textos: Ex 23.24-32; Ex 32.1-10, 21-24; Lv 10.1-32; 2 Sm 6.1-7

POBREZA NA CRIAÇÃO

Uma das maiores preocupações que devemos ter em cada letra de música é quanto ao julgamento de sua criatividade e beleza na escrita. Demasiadamente preocupados com a melodia esquecemos de nos perguntar se tudo o que está ali escrito é verdade (tendo como base a Escritura) e, ainda que seja verdade, se segue a lógica de um texto bem escrito.

Temos um texto bem escrito não só quando obedece a devidas regras gramaticais, mas quando, principalmente ele obedece a duas regras básicas: coesão e coerência. A coesão ocorre quando um texto obedece uma dada sequenciação entre palavras, frases, períodos e o texto. A coerência ocorre à medida em que as ideias do texto são decorrentes umas das outras, em que vou encontrando as linhas fundamentais de pensamento, em que vou descobrindo as idéias fundamentais do autor.

Infelizmente, muitos cânticos não obedecem esta regra prejudicando tremendamente o sentido e empobrecendo – se não até mesmo comprometendo – a mensagem.


SUGESTÕES PARA MÚSICAS SAUDÁVEIS NO CULTO3

Como já vimos, em tudo que fazemos buscamos a glória de Deus e, a melhor maneira de glorificá-lo é através dos preceitos de sua Palavra. Abaixo, portanto, seguem sugestões para guiar-nos a uma melhor avaliação da maneira que prestamos o culto através da música:

1) A Música da Igreja É Centralizada em Deus?

Ex 20.3-6; Sl 148.13

2) A Música da Igreja Promove uma Visão Elevada de Deus?

Is 40.12-26; Hb 10.31

3) A Música da Igreja É Realizada com Ordem?

A música cantada na igreja leva ao controle do Espírito ou ao descontrole emocional? 1 Co 14.40; Ef 5.18; Cl 3.16

4) O Conteúdo da Música da Igreja é Biblicamente Saudável?

As músicas cantadas devem sem biblicamente correta e inteligível. Sl 51.11

5) A Música da Igreja Promove a Unidade da Congregação Local?

A música na adoração coletiva visa a glória de Deus enquanto servimos uns aos outros. 1 Co 14.26; Fp 2.1-4

6) A Música da Igreja É Executada com Excelência?

Deus merece o melhor que possamos oferecer. 1 Co 10.31

7) A Música da Igreja Prepara as Pessoas para Ouvir a Palavra de Deus?

Cl 3.16-17

8) A Música da Igreja Adorna o Evangelho de Jesus Cristo?

A música na igreja deve testemunhar a grandeza de Cristo e não envergonhar o seu nome.

9) A Música de Sua Igreja Promove Adoração Fervorosa?

Ao mesmo tempo que a música deve levar a uma adoração centralizada em Deus, ela não precisa ser monótona, fria e insípida. Afinal Deus não é assim. (Jo 4.23)

10) A Filosofia de Música da Igreja Está Fundamentada em Princípios Bíblicos?

Muitos hoje fundamentam as músicas que serão cantadas de acordo com o gosto, o ritmo, a moda. Contudo, a fundamentação para a música na adoração deve ser a Escritura Sagrada

EXEMPLOS PRÁTICOS

Para terminar, faço uma relação de algumas músicas que julgo terem boa composição e, por isso, servirem como um guia para a escolha de outras, bem como, em um segundo momento, exemplifico outras que são, no mínimo, de gosto duvidoso. Você vai notar que algumas são novas e outras antigas (o que mostra que o problema já não vêm de hoje).

1) Boas Composições com Base Bíblica: São ricas em sua letras e composição. Fazem-nos refletir baseados no aspecto Bíblico e no relacionamento que devemos ter com Deus: Toma o Meu Coração; Que Sejas Meu Universo; O Meu Louvor é Fruto; Grande; Cantai ao Senhor.

2) Composições Ruins

Cada uma ao seu modo prestam um desserviço para a igrejas e grupos que dirigem-na a cantar. Veja:

a) Modismo: Fazem parte desse grupo aquelas que são compostas (uma atrás da outra diga-se de passagem) repetindo um refrão e um tema que não para de ser cantado. Não se sinta mal quando achar que já cantou uma música, mas ter o sentimento de que a letra pareça ter mudado. São músicas diferentes com a mesma frase se reptindo. Exemplo: Faz Chover (observação: houve um tempo em que fiquei com medo de que a igreja onde sou pastor ficasse inundada de tanto que apareciam músicas pedindo para Deus fazer chover. Bem, também me sentia como numa tribo indígena suplicando que chovesse na minha terra: uga! Uga!)

b) Falta de Coesão: Bem, temos aqui aquele grupo de músicas que maltratam a nossa amada língua portuguesa. Isso não é uma marca só de cânticos (alguns hinos também fazem isso), mas há algumas letras que são, simplesmente, irritantes. O “clássico” Me Derramar é um exemplo disto. Note o ponto: No calor deste lugar, quero me derramar, dizer que te amo, me derramar dizer TI preciso. Sem comentário...

c) Antropocêntrico: São músicas que até poderiam ser cantadas em uma ocasião social, numa aula sobre comunhão ou temas que tratam de relacionamentos horizontais. Mas, as pessoas insistem em cantar no momento do culto, onde Deus deve ser o centro da nossa adoração. Dê uma olhada na letra de Corpo e Família e você entenderá muito bem o que quero dizer.

d) Incoerência Bíblica: Temos muitas deste tipo, que não têm a mínima preocupação com o aspecto bíblico, aliás penso eu que é a última coisa que esses compositores verificam. Dois exemplos: o primeiro é o famoso Deus de Aliança que em um determinado momento em sua letra registra: és Deus de perto e não de longe. O que terá acontecido com o texto de Jeremias 23.23? O outro exemplo é famoso e já rendeu todo tipo de melodia. Como Zaqueu. A letra é tão desprovida de base bíblica que não dá sequer para adaptar.

e) Falta de Coerência Textual: Classifico este grupo como “Samba do Crioulo Doido”. Explico: as partes parecem ter sido forçosamente grudadas uma na outra. Isoladas talvez fossem boas, mas juntas formam um “Frankestein” da música “gospel”. Essa eu terei que descrever um pouco mais através do exemplo. A música é Bem Aventurado de Aline Barros:
Bem-Aventurado é o Que Está
Firmado em Sua Casa
Aqueles que o louvam
Cujo coração está no nosso Deus
Bem-aventurado é o que tem
Sede da justiça de Deus,
Aqueles que são filhos da luz
Cujo a força vem do nosso Deus (Tema: Quem é o Bem-aventurado)

Que o Teu reino venha sobre nós
Queremos Tua glória sobre nós (Tema: Desejo da Presença de Deus)

Ouve, oh Deus
Nossa oração, Altíssimo
Sara essa nação
É o clamor da igreja que te adora (Tema: Oração Pedindo pela Nação)

Só tú és Santo,
Só tú és Santo,
Só tú és Santo, Senhor (Tema: Declaração da Santidade de Deus)

Veja quantos temas diferentes numa mesma música, sendo que, ao menos para mim (corrijam-me COERENTEMENTE – desculpe o trocadilho – e irei rever meu ponto de vista)

f) Exaustivo: São os tipos de música em que nos perguntamos: eu já não disse isso pelo menos duas vezes? O exemplo mais claro deste tipo é a música Quero Louvar-te. Muda-se o louvar-te por servir-te, depois por amar-te, depois por buscar-te e por aí vai, de acordo com o gosto e a região de nosso país.


1John MacArthur, Ouro de Tolo?, p. 131
2...a característica narcisista (que adora a si mesma) da América moderna (…) se exibe através de uma personalidade altamente expressiva. (M. Horton, O Cristão e a Cultura, p. 74)
3Retirado da Obra citada de John MacArthur, p. 136-140.

2 comentários:

  1. Caro Laércio:
    Creio que faltou completar a frase do último parágrafo do ponto e)...
    De resto, excelente artigo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Não tinha reparado, Alceu. Vou corrigir. Obrigado e que Deus abençoe.

      Excluir