quinta-feira, 26 de novembro de 2020

PARE DE TER MEDO DA MORTE

 


PARE DE TER MEDO DA MORTE

“Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo...”  Salmo 23:4

 

Nossos últimos dias têm sido de profundo medo e politização sobre a enfermidade e a morte. Posso até entender esse problema no que diz respeito àqueles que não conhecem a Cristo. Entretanto, fico surpreso quando noto o mesmo sentimento entre aqueles que se dizem cristãos. Como devemos, de fato, encarar esse assunto?

Primeiramente quero falar de dados. Nesse momento em que escrevo (dia 26/11/2020) calcula-se que o mundo tem, até o momento, cerca de 1,4 milhões de mortos de Covid (para confirmar, basta acessar qualquer site que trate do assunto. São muitos, não fique preocupado). Enquanto isso, em 2019 os mesmos 1,4 milhões morreram de tuberculose (https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2020/10/14/brasil-nao-deve-alcancar-meta-de-reducao-de-casos-e-mortes-por-tuberculose-diz-oms.ghtml acesso em 26/11/2020) e 2,7 milhões morreram de pneumonia (https://saude.abril.com.br/medicina/o-mapa-da-pneumonia/ acesso em 26/11/2020) – números mundiais. Doenças respiratórias graves e com um detalhe: com tratamento já desenvolvido e ampla possibilidade de cura. Note que não houve a mesma histeria e não se incutiu o sentimento de medo na população. Igrejas não fecharam, e os crentes continuaram se dirigindo até seus locais de adoração sem nenhum temor. 

Não, não sou um irresponsável. Sei que o Covid 19 é um assunto sério e que devemos tomar todos os cuidados necessários para com ele, principalmente zelar pelos mais suscetíveis a contrair a doença. Contudo, números são números! O mundo precisa realmente parar por causa disso? Temos que, realmente, ficar em casa e nos esquecer do corpo vivo de Cristo que é a igreja e da adoração para a qual fomos criados?

Os cristãos devem parar de temer a morte! Como no versículo do Salmo 23 citado acima, o vale da sombra da morte não deve trazer temor ao nosso coração. Por quê?

Introdução

É uma doença com risco de morte, uma grande mudança de vida ou apenas a velhice forçando-o a encarar sua própria mortalidade? Como você está lidando com suas dúvidas acerca da morte? Com medo? Terror? Negação? Mantendo-se ocupado? Provavelmente, como a maioria de nós, você iria preferir não pensar ou falar sobre sua própria morte. Mas ignorá-la não a impedirá de acontecer — a probabilidade de uma pessoa morrer ainda é de 100%. Toda vida nesta terra termina em morte.(Enfrentando a morte com esperança, de David Powlison — série Aconselhamento.)

É natural, até certo ponto, temermos a morte. Ela não deveria existir. Ela é uma mancha sobre a criação boa feita por um Deus essencialmente bom. A morte nos traz a ideia de algo que é quebrado abruptamente. Nós nascemos para ter vida e vive-la profundamente com tudo aquilo que Deus criou para a glória dele e para nossa satisfação.

Mas a morte entrou nesse mundo. Há queda. Há dor. Há sofrimento. Nascemos em dor e partiremos desse mundo caído também em dor. Agora, muitos fatores têm de ser encarados dia após dia: a velhice, os diagnósticos de doenças – muitas delas sem cura -, pandemias como a que estamos vivendo, violência e privações. Sem dúvida, eles trazem apreensão para nosso coração limitado e que, insistentemente, quer ser guiado por aquilo que vê.

Nascer é, agora, um estágio que conduz à morte: E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo, depois disso, o juízo (Hebreus 9:27). O que aconteceu a Adão é verdade para todos os homens: E foram todos os dias que Adão viveu novecentos e trinta anos; e morreu (Gênesis 5:5). Ler a história dos descendentes de Adão pode não ser interessante, mas certamente estabelece um fato importante — todo ser vivente é indicado para morrer.

1. Por que tememos a morte?

Podem existir várias razões para temermos a morte. As que cito talvez sejam as principais: Primeiro a dor. Ninguém deseja, em sua normalidade, ter a sensação desagradável da dor. Uma simples picada de agulha leva muitos ao mais absoluto terror. A morte, na maioria dos casos é acompanhada de sofrimento e dor e nós queremos evitá-los. Segundo, para muitos a morte é ter que lidar com a incerteza do que acontece depois dela. Para onde vamos? Tudo acaba ou existe vida depois que fechamos os olhos? Se existe o que acontecerá? Terceiro, nossa consciência. Deus inscreveu a sua lei no coração de todos os homens. A noção ética e moral está marcada em nossas mentes. A morte nos coloca frente-a-frente com nossos erros, pecados e a transgressão da lei. Para os não cristãos eles não podem escapar da consciência dada por Deus de que eles quebraram a lei divina e merecem a justa punição do Senhor. Para nós cristãos há a certeza de que todos nossos delitos foram perdoados em Cristo. Quarto, a morte representa a quebra de relacionamentos. Somos seres relacionais. Como a Trindade Santa – Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo – se relaciona eternamente, nós fomos criados para sermos relacionais. Amamos pessoas. Abraçamos, beijamos, rimos, choramos, compartilhamos alegrias e frustrações. Isso é bom e vem de Deus. A morte quebra, ainda que momentaneamente, essa bênção que nos foi concedida. Finalmente, tememos a morte porque esquecemos – ou não conhecemos mesmo – a soberania de Deus sobre a nossa vida. Por meio desse atributo santo, Deus na eternidade planejou o dia em que deveríamos nascer e o dia em que deveremos morrer. Claro que não é um salvo-conduto para sermos irresponsáveis e para tentarmos a Deus (como Satanás procurou convencer Jesus a fazer ao saltar do pináculo do templo), mas se nossa vida está nas mãos do Senhor, se cada dia trará seu próprio mal, se não podemos acrescentar um segundo ao curso da nossa história e se estamos nas melhores mãos do Universo, por que temer a morte? Não podemos esquecer, jamais, daquele que sabe todas as coisas e que controla tudo para sua glória e para nosso bem.

2. Qual a grande causa da morte?

Para nós cristãos a morte é uma estranha. Ela veio a esse mundo mal por causa da Queda do homem e das consequências que ele trouxe a todo universo, uma vez que ele era o representante de toda raça humana. Deus fez tudo bom, mas o mal e o pecado mancharam a criação e o dom da vida: – o salário do pecado é a morte (Rm 6.23). Doenças, acidentes, assassinatos e qualquer outra causa de morte são fruto do pecado em um mundo que, agora, tem de lidar com seus cardos e abrolhos e com todo desiquilíbrio existentes.

Também como consequência do pecado, nossa rebelião contra Deus nos trouxe o desejo de ter o controle absoluto em nossas mãos e não querer ter dependência dEle. Isso faz de nós, ilusoriamente, soberanos, quando – como já vimos – só um em todo o universo possui essa qualidade. Tentar ter o poder sobre a vida, temendo irracionalmente a morte, é procurar o controle de algo que não está em nosso controle. A morte veio a todos os homens (Rm 5.12).

Satanás é também o causador da morte. O Maligno é chamado de homicida desde o princípio. A Bíblia descreve aqueles que são aprisionados pelo pavor da morte como escravizados por Satanás. Sua especialidade é ser uma parasita da criação, e, também, escravizar e matar. Ele é um assassino (Hb 2:14-15): Visto, pois, que os filhos têm participação comum de carne e sangue, também Jesus, igualmente, participou dessas coisas, para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo, e livrasse todos os que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos à escravidão por toda a vida.

Nós não sabemos como os seres humanos deixariam este mundo se não tivesse havido o evento cósmico da Queda. Mas como a Queda aconteceu, a separação do corpo e alma através da morte corporal, que é tanto fruto do pecado como julgamento de Deus é uma das certezas da vida. Não devemos ficar surpresos com isso!

3. O que a morte representa para o filho de Deus?

Para os filhos de Deus, aqueles que estão em Cristo, a morte tem outros aspectos.  Ela também nos traz lições para o aqui e agora. Ela é confortadora.

Primeiro ela nos ensina sobre nossa limitação. A morte iguala a todos em sua dor e sofrimento. Ela não escolhe raça, nacionalidade, nível social ou de conhecimento. Não há carro funerário com engate. Tal fato deve nos encher de humildade, empatia e simpatia pelo próximo. Não olharemos para ninguém como se fossemos superiores, mas como iguais em todo sofrimento e lutas, bem como na expectativa certa de que nossos dias estão contados. Em virtude disso devemos aproveitar – biblicamente falando – cada dia da nossa curta vida com as pessoas que amamos, com os amigos, o nosso trabalho, as dádivas concedidas por Deus, no serviço ao próximo e adoração ao Senhor.

Segundo a morte chama os filhos de Deus a andar pela fé. Cada fração de segundo de nossa existência é incerta. Tiago diz: Vocês não passam de neblina que aparece por um instante e logo se dissipa (4.14). Pedro confirma isso com outras palavras: Porque toda a humanidade é como a erva do campo, e toda a sua glória é como a flor da erva. A erva seca, e a flor cai...(1 Pe 1.24).  Assim, vivemos cada dia na expectativa das promessas de Deus e na certeza de que se partirmos estaremos com Cristo: Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro. Estou cercado pelos dois lados, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor. (Filipenses 1:21 e 23).

Terceiro, a morte para os filhos de Deus é a vitória sobre esse mundo. Somos peregrinos e estrangeiros em terra estranha. Esse mundo, em sua presente ordem, é contrário aos valores bíblicos e cristãos. Ele nos odeia. Ele nos oprime. Ele nos persegue. Aliado a isso, nosso pecado que ainda habita em nós e Satanás como todo o seu poder, tentam nos destruir e afastar de Deus. A morte, para os que estão em Cristo, é a liberdade daqui e a certeza de um porvir e depois na presença de Cristo e a expectativa da restauração final de todas as coisas. Jesus enfrentou e venceu a morte por mim e você.  Para aqueles que conhecem Jesus, a morte não tem a palavra final — ela tem a penúltima palavra. A última palavra para o cristão é a ressurreição. A última palavra é vida, porque em sua morte a morte foi destruída e a vida eterna venceu por meio de sua ressurreição. Ele vive! Nós também, que estamos nele, viveremos: Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.(João 3:16). Na morte, os filhos de Deus têm suas almas aperfeiçoadas e entram na vida de adoração no céu – eles estão glorificados: Pois aqueles que Deus de antemão conheceu ele também predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou. (Romanos 8:29,30). A morte deve ser vista como descanso do pecado, tristeza, aflições, tentações, deserções, irritações, oposições e perseguições: Então ouvi uma voz do céu, dizendo: — Escreva: “Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor.” — Sim — diz o Espírito —, para que descansem das suas fadigas, pois as suas obras os acompanham. (Apocalipse 14:13)

4. Como devemos enfrentar a expectativa da morte?

Tomando todos os cuidados para preservar a vida.  Não podemos fazer como os Montanistas no início do cristianismo, que incentivavam os seus seguidores a buscar o martírio. Deus deseja que preservemos a vida com os cuidados necessários: atividade física, médicos, remédios quando prescritos, tratamento, cirurgia, alimentação, sono, etc.

Contudo, não devemos temer a morte a ponto de querer controlar o que não podemos. Nossos dias estão nas mãos de Deus (todos os nossos dias estão escritos no seu livro). Descanse nessa verdade e viva a vida da maneira que ele deseja e com tudo aquilo que Ele, em sua infinita bondade, tem para oferecer.

Tenha a certeza da vida eterna que só pode existir para aqueles que estão em Cristo. Creia que ele venceu a morte e dá a vida eterna a todo que nele crê. Ore a Deus e entregue sua vida a ele e ande em plena comunhão com ele, em dependência dele, em serviço a ele e ao próximo.

Procure conhecer a Escritura, principalmente textos que falem da realidade da bênção da vida futura. Satanás, o homicida irá tentar você dia e noite. Os homens nesse mundo caído tentarão impor o conceito deles, de que tudo o que existe é o aqui e agora. Seu pecado tentará convencê-lo de que a morte é uma inimiga invencível. Creia em Deus: Que o coração de vocês não fique angustiado; vocês creem em Deus, creiam também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se não fosse assim, eu já lhes teria dito. Pois vou preparar um lugar para vocês. E, quando eu for e preparar um lugar, voltarei e os receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, vocês estejam também. (João 14:1-3)

5. E seu eu ficar doente ou tiver que enfrentar a morte?

Prepare-se para isso alimentando-se das promessas de Deus quanto à morte, o céu e a vida eterna – a ressurreição. Nós vivemos por aquilo que não vemos e não por aquilo que vemos. Caso contrário, não estaremos vivendo pela fé.

Ore pedindo força a Deus. Não temos capacidade de enfrentar sozinhos o vale da sombra da morte. Mas com Ele ao nosso lado, não precisaremos temer mal algum.

Saiba qual a realidade daquilo que Deus tem para nós. A morte não é o fim de todas as coisas. Os que creem em Cristo podem ter a certeza da vida eterna.

Confie na soberania de Deus - A morte e a doença não o surpreendem. Ele escreveu todos os nossos dias (Salmo 139.16), então ele está sempre cumprindo os seus bons propósitos por nós e por aqueles que amamos.

Busque a comunhão dos irmãos e o apoio fraternal e espiritual que o Corpo de Cristo dá nos momentos de sofrimento e dor.

Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; o teu bordão e o teu cajado me consolam. Salmo 23.4.

Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós Romanos 8.18

6. E se alguém que eu amo muito estiver gravemente enfermo?

Lembre-se que todos vivemos em um mundo mal, no qual o pecado entrou

Lembre-se de que todos nós enfrentaremos a morte

Lembre-se de que nossos filhos são herança do Senhor – Ele os pode pedir de volta

Lembre-se que o envelhecimento e morte fazem parte dessa vida e que aqueles que envelhecem não viverão nessa presente ordem e mundo para sempre, assim como qualquer um de nós.

Pregue a esperança de Cristo e da ressurreição a eles, crendo que Deus pode levá-los a crer.

Ore pela cura – com meios ou sem – mas ore especialmente para salvação e consolo.

Encare como normal as lágrimas, as saudades e a tristeza que envolvem a doença e o luto

Em todos os casos, busque o apoio e auxilio de irmãos maduros na fé e líderes na igreja

"Nunca conheci alguém que fosse tão livre quanto Paulo. É impossível atingi-lo. Se alguém diz: “Vou matar você, Paulo”, ele responde: “Tudo bem! Chegou a hora de ir para o céu”. Se alguém diz: “Vamos deixá-lo viver”, ele retruca: “Tudo bem; o viver é Cristo”. Se alguém diz: “Então vamos espancar você”, ele diz: “Bom, então vou participar dos sofrimentos de Cristo. Recebo de bom grado”.Se alguém diz: “Vamos mandá-lo para a prisão”, não há problema: “Vou converter seus guardas e a maioria dos prisioneiros”. Paulo é inabalável. Como ele ficou assim? Ele sempre voltava ao evangelho. Veja o que ele diz em filipenses 1.12-17:  “Estou na prisão, mas não tem problema. Isso fez com que outros criassem coragem para pregar o evangelho. Posso compartilhar o evangelho aqui onde estou. Todas as coisas promovem o evangelho”. (D. A. CARSON - Livro: As Escrituras dão Testemunho de mim. Pág  136)

Então vi em meu sonho que foram caminhando juntos até avistarem o portão. Vi depois que entre eles e o portão havia um rio,3 sem ponte que levasse até a outra margem. O rio era muito profundo e, diante dele, os peregrinos se viram absolutamente perplexos. Mas os homens que os acompanhavam disseram: — Precisam atravessá-lo. É o único meio de chegar até o portão. (Bunyan, John. O peregrino (Clássicos MC) (Locais do Kindle 3044-3064). Editora Mundo Cristão. Edição do Kindle)