PARE DE TER MEDO DA
MORTE
“Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal
nenhum, porque tu estás comigo...” Salmo
23:4
Nossos últimos dias têm sido de
profundo medo e politização sobre a enfermidade e a morte. Posso até entender
esse problema no que diz respeito àqueles que não conhecem a Cristo. Entretanto,
fico surpreso quando noto o mesmo sentimento entre aqueles que se dizem
cristãos. Como devemos, de fato, encarar esse assunto?
Primeiramente quero falar de
dados. Nesse momento em que escrevo (dia 26/11/2020) calcula-se que o mundo
tem, até o momento, cerca de 1,4 milhões de mortos de Covid (para confirmar,
basta acessar qualquer site que trate do assunto. São muitos, não fique
preocupado). Enquanto isso, em 2019 os mesmos 1,4 milhões morreram de
tuberculose (https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2020/10/14/brasil-nao-deve-alcancar-meta-de-reducao-de-casos-e-mortes-por-tuberculose-diz-oms.ghtml
acesso em 26/11/2020) e 2,7 milhões morreram de pneumonia (https://saude.abril.com.br/medicina/o-mapa-da-pneumonia/
acesso em 26/11/2020) – números mundiais. Doenças respiratórias graves e com um
detalhe: com tratamento já desenvolvido e ampla possibilidade de cura. Note que
não houve a mesma histeria e não se incutiu o sentimento de medo na população.
Igrejas não fecharam, e os crentes continuaram se dirigindo até seus locais de
adoração sem nenhum temor.
Não, não sou um irresponsável.
Sei que o Covid 19 é um assunto sério e que devemos tomar todos os cuidados
necessários para com ele, principalmente zelar pelos mais suscetíveis a
contrair a doença. Contudo, números são números! O mundo precisa realmente
parar por causa disso? Temos que, realmente, ficar em casa e nos esquecer do
corpo vivo de Cristo que é a igreja e da adoração para a qual fomos criados?
Os cristãos devem parar de temer
a morte! Como no versículo do Salmo 23 citado acima, o vale da sombra da morte
não deve trazer temor ao nosso coração. Por quê?
Introdução
É uma doença com risco de morte, uma grande
mudança de vida ou apenas a velhice forçando-o a encarar sua própria
mortalidade? Como você está lidando com suas dúvidas acerca da morte? Com medo?
Terror? Negação? Mantendo-se ocupado? Provavelmente, como a maioria de nós,
você iria preferir não pensar ou falar sobre sua própria morte. Mas ignorá-la
não a impedirá de acontecer — a probabilidade de uma pessoa morrer ainda é de
100%. Toda vida nesta terra termina em morte.(Enfrentando a morte com
esperança, de David Powlison — série Aconselhamento.)
É natural, até certo ponto,
temermos a morte. Ela não deveria existir. Ela é uma mancha sobre a criação boa
feita por um Deus essencialmente bom. A morte nos traz a ideia de algo que é
quebrado abruptamente. Nós nascemos para ter vida e vive-la profundamente com
tudo aquilo que Deus criou para a glória dele e para nossa satisfação.
Mas a morte entrou nesse mundo.
Há queda. Há dor. Há sofrimento. Nascemos em dor e partiremos desse mundo caído
também em dor. Agora, muitos fatores têm de ser encarados dia após dia: a
velhice, os diagnósticos de doenças – muitas delas sem cura -, pandemias como a
que estamos vivendo, violência e privações. Sem dúvida, eles trazem apreensão para
nosso coração limitado e que, insistentemente, quer ser guiado por aquilo que
vê.
Nascer é, agora, um estágio que
conduz à morte: E, como aos homens está
ordenado morrerem uma vez, vindo, depois disso, o juízo (Hebreus 9:27). O
que aconteceu a Adão é verdade para todos os homens: E foram todos os dias que Adão viveu novecentos e trinta anos; e morreu
(Gênesis 5:5). Ler a história dos descendentes de Adão pode não ser
interessante, mas certamente estabelece um fato importante — todo ser vivente é
indicado para morrer.
1. Por que tememos a morte?
Podem existir várias razões para
temermos a morte. As que cito talvez sejam as principais: Primeiro a dor.
Ninguém deseja, em sua normalidade, ter a sensação desagradável da dor. Uma
simples picada de agulha leva muitos ao mais absoluto terror. A morte, na
maioria dos casos é acompanhada de sofrimento e dor e nós queremos evitá-los.
Segundo, para muitos a morte é ter que lidar com a incerteza do que acontece
depois dela. Para onde vamos? Tudo acaba ou existe vida depois que fechamos os
olhos? Se existe o que acontecerá? Terceiro, nossa consciência. Deus inscreveu
a sua lei no coração de todos os homens. A noção ética e moral está marcada em
nossas mentes. A morte nos coloca frente-a-frente com nossos erros, pecados e a
transgressão da lei. Para os não cristãos eles não podem escapar da consciência
dada por Deus de que eles quebraram a lei divina e merecem a justa punição do
Senhor. Para nós cristãos há a certeza de que todos nossos delitos foram
perdoados em Cristo. Quarto, a morte representa a quebra de relacionamentos. Somos
seres relacionais. Como a Trindade Santa – Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito
Santo – se relaciona eternamente, nós fomos criados para sermos relacionais.
Amamos pessoas. Abraçamos, beijamos, rimos, choramos, compartilhamos alegrias e
frustrações. Isso é bom e vem de Deus. A morte quebra, ainda que momentaneamente,
essa bênção que nos foi concedida. Finalmente, tememos a morte porque esquecemos
– ou não conhecemos mesmo – a soberania de Deus sobre a nossa vida. Por meio
desse atributo santo, Deus na eternidade planejou o dia em que deveríamos
nascer e o dia em que deveremos morrer. Claro que não é um salvo-conduto para
sermos irresponsáveis e para tentarmos a Deus (como Satanás procurou convencer
Jesus a fazer ao saltar do pináculo do templo), mas se nossa vida está nas mãos
do Senhor, se cada dia trará seu próprio mal, se não podemos acrescentar um
segundo ao curso da nossa história e se estamos nas melhores mãos do Universo, por
que temer a morte? Não podemos esquecer, jamais, daquele que sabe todas as
coisas e que controla tudo para sua glória e para nosso bem.
2. Qual a grande causa da morte?
Para nós cristãos a morte é uma
estranha. Ela veio a esse mundo mal por causa da Queda do homem e das consequências
que ele trouxe a todo universo, uma vez que ele era o representante de toda
raça humana. Deus fez tudo bom, mas o mal e o pecado mancharam a criação e o
dom da vida: – o salário do pecado é a
morte (Rm 6.23). Doenças, acidentes, assassinatos e qualquer outra causa de
morte são fruto do pecado em um mundo que, agora, tem de lidar com seus cardos
e abrolhos e com todo desiquilíbrio existentes.
Também como consequência do
pecado, nossa rebelião contra Deus nos trouxe o desejo de ter o controle
absoluto em nossas mãos e não querer ter dependência dEle. Isso faz de nós,
ilusoriamente, soberanos, quando – como já vimos – só um em todo o universo
possui essa qualidade. Tentar ter o poder sobre a vida, temendo irracionalmente
a morte, é procurar o controle de algo que não está em nosso controle. A morte
veio a todos os homens (Rm 5.12).
Satanás é também o causador da
morte. O Maligno é chamado de homicida
desde o princípio. A Bíblia descreve aqueles que são aprisionados pelo
pavor da morte como escravizados por Satanás. Sua especialidade é ser uma
parasita da criação, e, também, escravizar e matar. Ele é um assassino (Hb
2:14-15): Visto, pois, que os filhos têm
participação comum de carne e sangue, também Jesus, igualmente, participou
dessas coisas, para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da
morte, a saber, o diabo, e livrasse todos os que, pelo pavor da morte, estavam
sujeitos à escravidão por toda a vida.
Nós não sabemos como os seres
humanos deixariam este mundo se não tivesse havido o evento cósmico da Queda.
Mas como a Queda aconteceu, a separação do corpo e alma através da morte
corporal, que é tanto fruto do pecado como julgamento de Deus é uma das
certezas da vida. Não devemos ficar surpresos com isso!
3. O que a morte representa para o filho de Deus?
Para os filhos de Deus, aqueles
que estão em Cristo, a morte tem outros aspectos. Ela também nos traz lições para o aqui e agora.
Ela é confortadora.
Primeiro ela nos ensina sobre
nossa limitação. A morte iguala a todos em sua dor e sofrimento. Ela não
escolhe raça, nacionalidade, nível social ou de conhecimento. Não há carro
funerário com engate. Tal fato deve nos encher de humildade, empatia e simpatia
pelo próximo. Não olharemos para ninguém como se fossemos superiores, mas como
iguais em todo sofrimento e lutas, bem como na expectativa certa de que nossos
dias estão contados. Em virtude disso devemos aproveitar – biblicamente falando
– cada dia da nossa curta vida com as pessoas que amamos, com os amigos, o
nosso trabalho, as dádivas concedidas por Deus, no serviço ao próximo e
adoração ao Senhor.
Segundo a morte chama os filhos
de Deus a andar pela fé. Cada fração de segundo de nossa existência é incerta.
Tiago diz: Vocês não passam de neblina
que aparece por um instante e logo se dissipa (4.14). Pedro confirma isso com
outras palavras: Porque toda a humanidade
é como a erva do campo, e toda a sua glória é como a flor da erva. A erva seca,
e a flor cai...(1 Pe 1.24). Assim,
vivemos cada dia na expectativa das promessas de Deus e na certeza de que se
partirmos estaremos com Cristo: Porque
para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro. Estou cercado pelos dois lados,
tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor.
(Filipenses 1:21 e 23).
Terceiro, a morte para os filhos
de Deus é a vitória sobre esse mundo. Somos peregrinos e estrangeiros em terra
estranha. Esse mundo, em sua presente ordem, é contrário aos valores bíblicos e
cristãos. Ele nos odeia. Ele nos oprime. Ele nos persegue. Aliado a isso, nosso
pecado que ainda habita em nós e Satanás como todo o seu poder, tentam nos
destruir e afastar de Deus. A morte, para os que estão em Cristo, é a liberdade
daqui e a certeza de um porvir e depois na presença de Cristo e a expectativa
da restauração final de todas as coisas. Jesus enfrentou e venceu a morte por
mim e você. Para aqueles que conhecem
Jesus, a morte não tem a palavra final — ela tem a penúltima palavra. A última
palavra para o cristão é a ressurreição. A última palavra é vida, porque em sua
morte a morte foi destruída e a vida eterna venceu por meio de sua
ressurreição. Ele vive! Nós também, que estamos nele, viveremos: Porque Deus amou o mundo de tal maneira que
deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a
vida eterna.(João 3:16). Na morte, os filhos de Deus têm suas almas
aperfeiçoadas e entram na vida de adoração no céu – eles estão glorificados: Pois aqueles que Deus de antemão conheceu
ele também predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que
ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses
também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que
justificou, a esses também glorificou. (Romanos 8:29,30). A morte deve ser
vista como descanso do pecado, tristeza, aflições, tentações, deserções,
irritações, oposições e perseguições: Então
ouvi uma voz do céu, dizendo: — Escreva: “Bem-aventurados os mortos que, desde
agora, morrem no Senhor.” — Sim — diz o Espírito —, para que descansem das suas
fadigas, pois as suas obras os acompanham. (Apocalipse 14:13)
4. Como devemos enfrentar a expectativa da morte?
Tomando
todos os cuidados para preservar a vida. Não podemos fazer como os Montanistas no
início do cristianismo, que incentivavam os seus seguidores a buscar o
martírio. Deus deseja que preservemos a vida com os cuidados necessários:
atividade física, médicos, remédios quando prescritos, tratamento, cirurgia,
alimentação, sono, etc.
Contudo, não devemos temer a
morte a ponto de querer controlar o que não podemos. Nossos dias estão nas mãos
de Deus (todos os nossos dias estão escritos no seu livro). Descanse nessa
verdade e viva a vida da maneira que ele deseja e com tudo aquilo que Ele, em
sua infinita bondade, tem para oferecer.
Tenha a certeza da vida eterna
que só pode existir para aqueles que estão em Cristo. Creia que ele venceu a
morte e dá a vida eterna a todo que nele crê. Ore a Deus e entregue sua vida a
ele e ande em plena comunhão com ele, em dependência dele, em serviço a ele e
ao próximo.
Procure conhecer a Escritura,
principalmente textos que falem da realidade da bênção da vida futura. Satanás,
o homicida irá tentar você dia e noite. Os homens nesse mundo caído tentarão
impor o conceito deles, de que tudo o que existe é o aqui e agora. Seu pecado
tentará convencê-lo de que a morte é uma inimiga invencível. Creia em Deus: Que
o coração de vocês não fique angustiado; vocês creem em Deus, creiam também em
mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se não fosse assim, eu já lhes teria
dito. Pois vou preparar um lugar para vocês. E, quando eu for e preparar um
lugar, voltarei e os receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, vocês
estejam também. (João
14:1-3)
5. E seu eu ficar doente ou tiver
que enfrentar a morte?
Prepare-se para isso
alimentando-se das promessas de Deus quanto à morte, o céu e a vida eterna – a
ressurreição. Nós vivemos por aquilo que não vemos e não por aquilo que vemos.
Caso contrário, não estaremos vivendo pela fé.
Ore pedindo força a Deus. Não
temos capacidade de enfrentar sozinhos o vale da sombra da morte. Mas com Ele
ao nosso lado, não precisaremos temer mal algum.
Saiba qual a realidade daquilo
que Deus tem para nós. A morte não é o fim de todas as coisas. Os que creem em
Cristo podem ter a certeza da vida eterna.
Confie na soberania de Deus - A
morte e a doença não o surpreendem. Ele escreveu todos os nossos dias (Salmo
139.16), então ele está sempre cumprindo os seus bons propósitos por nós e por
aqueles que amamos.
Busque a comunhão dos irmãos e o
apoio fraternal e espiritual que o Corpo de Cristo dá nos momentos de
sofrimento e dor.
Ainda que eu ande pelo vale da
sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; o teu bordão e
o teu cajado me consolam. Salmo 23.4.
Porque para mim tenho por
certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a
glória a ser revelada em nós Romanos 8.18
6. E se alguém que eu amo
muito estiver gravemente enfermo?
Lembre-se que todos vivemos em um
mundo mal, no qual o pecado entrou
Lembre-se de que todos nós
enfrentaremos a morte
Lembre-se de que nossos filhos
são herança do Senhor – Ele os pode pedir de volta
Lembre-se que o envelhecimento e
morte fazem parte dessa vida e que aqueles que envelhecem não viverão nessa
presente ordem e mundo para sempre, assim como qualquer um de nós.
Pregue a esperança de Cristo e da
ressurreição a eles, crendo que Deus pode levá-los a crer.
Ore pela cura – com meios ou sem
– mas ore especialmente para salvação e consolo.
Encare como normal as lágrimas,
as saudades e a tristeza que envolvem a doença e o luto
Em todos os casos, busque o apoio
e auxilio de irmãos maduros na fé e líderes na igreja
"Nunca conheci alguém que
fosse tão livre quanto Paulo. É impossível atingi-lo. Se alguém diz: “Vou matar
você, Paulo”, ele responde: “Tudo bem! Chegou a hora de ir para o céu”. Se
alguém diz: “Vamos deixá-lo viver”, ele retruca: “Tudo bem; o viver é Cristo”.
Se alguém diz: “Então vamos espancar você”, ele diz: “Bom, então vou participar
dos sofrimentos de Cristo. Recebo de bom grado”.Se alguém diz: “Vamos mandá-lo
para a prisão”, não há problema: “Vou converter seus guardas e a maioria dos
prisioneiros”. Paulo é inabalável. Como ele ficou assim? Ele sempre voltava ao
evangelho. Veja o que ele diz em filipenses 1.12-17: “Estou na prisão, mas não tem problema. Isso
fez com que outros criassem coragem para pregar o evangelho. Posso compartilhar
o evangelho aqui onde estou. Todas as coisas promovem o evangelho”. (D. A. CARSON - Livro: As Escrituras dão
Testemunho de mim. Pág 136)
Então vi em meu sonho que
foram caminhando juntos até avistarem o portão. Vi depois que entre eles e o
portão havia um rio,3 sem ponte que levasse até a outra margem. O rio era muito
profundo e, diante dele, os peregrinos se viram absolutamente perplexos. Mas os
homens que os acompanhavam disseram: — Precisam atravessá-lo. É o único meio de
chegar até o portão. (Bunyan,
John. O peregrino (Clássicos MC) (Locais do Kindle 3044-3064). Editora Mundo
Cristão. Edição do Kindle)