quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Quando o Imaterial se Materializa

A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira.
(Pv 15.1)



Palavras são recursos que Deus concedeu ao homem a fim de que ele possa se comunicar com o seu semelhante. Nenhum outro ser criado por Deus recebeu este privilégio. Seja de maneira falada, seja de maneira escrita podemos transformar as coisas que passam em nossa mente e em nosso coração em algo concreto. Como a Trindade faz entre si e Deus na criação fez com o homem, podemos igualmente fazer entre nós.

Contudo, infelizmente, temos uma dupla herança, um duplo problema no que diz respeito ao falar, ao uso das palavras: nosso pecado e a tentação que Satanás coloca diante de nós para o mau uso da língua (ou das mãos quando as palavras são escritas). Jesus afirmou que é do coração que procedem os maus desígnios (Mc 7.21) e é de lá que as palavras procedem. Igualmente, Paulo manda os Coríntios se perdoarem a fim de Satanás não alcançasse vantagem sobre eles, pois seus desígnios não deveriam ser ignorados (1 Co 2.10,11) e, sem dúvida, entre outras coisas, o grande inimigo de Deus e dos crentes usa as palavras para semear a discórdia, a ira, a culpa, a destruição.

Esta realidade mencionada não precisa – e não deve – existir na vida do crente. Salvos em Cristo, com o coração habitado pelo Espírito Santo e libertos do poder de Satanás temos totais condições de usar corretamente as palavras que saem da nossa boca. Nossas idéias e sentimentos podem ser materializados sob a tutela desse Espírito que habita em nós (afinal, o termo paracletos usado por Cristo para se referir ao Espírito Santo pode ser traduzido também por “tutor”, aquele que cuida de nossos interesses) e, assim, podemos controlar aquilo que dizemos. Logo, acho inaceitável comentários ligados ao sobrenome (“eu sou da família “x”, por isso eu falo desta maneira”) ou à descendência (“tenho sangue italiano, logo sou muito explosivo e falo sem pensar). Quando me torno cristão eu recebo um novo nome e uma nova linhagem: o nome a linhagem de Cristo, que “quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente” (1 Pe 2.23).

Enfim, palavras podem edificar ou destruir, unir ou desunir, acalmar ou suscitar ódio. Mas, nós cristãos temos o dever de usá-las adequadamente a fim de materializar a paz, o amor a união e a verdade. O que tem passado em seu coração? O que tem passado em sua mente. O que suas palavras têm materializado: ódio ou amor? Ore, submeta-se ao Espírito de Deus a fim de que “não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem” (Ef 4:29).

Rev. Laércio Rios Guimarães

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

UNIVERSIDADE MACKENZIE: EM DEFESA DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO RELIGIOSA

A Universidade Presbiteriana Mackenzie vem recebendo ataques e críticas por um texto alegadamente “homofóbico” veiculado em seu site desde 2007. Nós, de várias denominações cristãs, vimos prestar solidariedade à instituição. Nós nos levantamos contra o uso indiscriminado do termo “homofobia”, que pretende aplicar-se tanto a assassinos, agressores e discriminadores de homossexuais quanto a líderes religiosos cristãos que, à luz da Escritura Sagrada, consideram a homossexualidade um pecado. Ora, nossa liberdade de consciência e de expressão não nos pode ser negada, nem confundida com violência. Consideramos que mencionar pecados para chamar os homens a um arrependimento voluntário é parte integrante do anúncio do Evangelho de Jesus Cristo. Nenhum discurso de ódio pode se calcar na pregação do amor e da graça de Deus.

Como cristãos, temos o mandato bíblico de oferecer o Evangelho da salvação a todas as pessoas. Jesus Cristo morreu para salvar e reconciliar o ser humano com Deus. Cremos, de acordo com as Escrituras, que “todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3.23). Somos pecadores, todos nós. Não existe uma divisão entre “pecadores” e “não-pecadores”. A Bíblia apresenta longas listas de pecado e informa que sem o perdão de Deus o homem está perdido e condenado. Sabemos que são pecado: “prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, contendas, rivalidades, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias” (Gálatas 5.19). Em sua interpretação tradicional e histórica, as Escrituras judaico-cristãs tratam da conduta homossexual como um pecado, como demonstram os textos de Levítico 18.22, 1Coríntios 6.9-10, Romanos 1.18-32, entre outros. Se queremos o arrependimento e a conversão do perdido, precisamos nomear também esse pecado. Não desejamos mudança de comportamento por força de lei, mas sim, a conversão do coração. E a conversão do coração não passa por pressão externa, mas pela ação graciosa e persuasiva do Espírito Santo de Deus, que, como ensinou o Senhor Jesus Cristo, convence “do pecado, da justiça e do juízo” (João 16.8).

Queremos assim nos certificar de que a eventual aprovação de leis chamadas anti-homofobia não nos impedirá de estender esse convite livremente a todos, um convite que também pode ser recusado. Não somos a favor de nenhum tipo de lei que proíba a conduta homossexual; da mesma forma, somos contrários a qualquer lei que atente contra um princípio caro à sociedade brasileira: a liberdade de consciência. A Constituição Federal (artigo 5º) assegura que “todos são iguais perante a lei”, “estipula ser inviolável a liberdade de consciência e de crença” e “estipula que ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política”. Também nos opomos a qualquer força exterior – intimidação, ameaças, agressões verbais e físicas – que vise à mudança de mentalidades. Não aceitamos que a criminalização da opinião seja um instrumento válido para transformações sociais, pois, além de inconstitucional, fomenta uma indesejável onda de autoritarismo, ferindo as bases da democracia. Assim como não buscamos reprimir a conduta homossexual por esses meios coercivos, não queremos que os mesmos meios sejam utilizados para que deixemos de pregar o que cremos. Queremos manter nossa liberdade de anunciar o arrependimento e o perdão de Deus publicamente. Queremos sustentar nosso direito de abrir instituições de ensino confessionais, que reflitam a cosmovisão cristã. Queremos garantir que a comunidade religiosa possa exprimir-se sobre todos os assuntos importantes para a sociedade.

Manifestamos, portanto, nosso total apoio ao pronunciamento da Igreja Presbiteriana do Brasil publicado no ano de 2007 [LINK http://www.ipb.org.br/noticias/noticia_inteligente.php3?id=808] e reproduzido parcialmente, também em 2007, no site da Universidade Presbiteriana Mackenzie, por seu chanceler, Reverendo Dr. Augustus Nicodemus Gomes Lopes. Se ativistas homossexuais pretendem criminalizar a postura da Universidade Presbiteriana Mackenzie, devem se preparar para confrontar igualmente a Igreja Presbiteriana do Brasil, as igrejas evangélicas de todo o país, a Igreja Católica Apostólica Romana, a Congregação Judaica do Brasil e, em última instância, censurar as próprias Escrituras judaico-cristãs. Indivíduos, grupos religiosos e instituições têm o direito garantido por lei de expressar sua confessionalidade e sua consciência sujeitas à Palavra de Deus. Postamo-nos firmemente para que essa liberdade não nos seja tirada.

Este manifesto é uma criação coletiva com vistas a representar o pensamento cristão brasileiro.
Para ampla divulgação.

Mackenzie, IPB e Homofobia

Essa semana a Universidade Presbiteriana Mackenzie recebeu um ataque de vários grupos de ativistas homossexuais, reforçado por vários meios de comunicação que não pouparam críticas ao manifesto postado no site daquela entidade, que deixa clara a sua posição contra o PLC 122 (que transforma em crime qualquer tipo de manifestação, como eles chamam, “homofóbica”). Entre outras manchetes estavam aquela que dizia “Universidade contra Gays” (site do Yahoo). Nada mais falacioso!
Eu estudo e freqüento a Universidade Mackenzie. Ela está aberta e recebe, tratando igualitariamente, todo tipo de pessoas, com os mais diversos tipos de pensamentos e opiniões. Em seus cursos já vi várias vezes homossexuais e nunca presenciei qualquer tipo de agressão ou discriminação contra eles.
O que o Mack fez foi única e exclusivamente postar a opinião e posição da sua mantenedora: A Igreja Presbiteriana do Brasil, que por sua vez tem como sua regra de fé e prática a Escritura Sagrada. E neste livro que entendemos ser a Palavra de Deus inerrante, infalível e imutável, aprendemos a ter paz com todos, a amar a todos, mas a condenar qualquer manifestação de pecado e de transformação da mentira em verdade e da verdade em mentira. Dentro deste universo está a questão do homossexualismo. Ninguém que queira ser cristão e deseja seguir a Cristo e sua Palavra pode ser adepto da homossexualidade ou defendê-la.
Nós cristãos presbiterianos do Brasil, vivemos em um país democrático que nos assegura por sua Constituição o direito de liberdade de culto e de manifestação de opinião religiosa. Portanto, o que os grupos homossexuais estão querendo em relação ao outros, através da aprovação desta lei (justamente chamada de “mordaça gay”)e do atual ataque ao manifesto da IPB (publicado no site da UPM em 2007) é que todos possam ouvi-los e aceitem o que quer que eles façam, mas que fiquem calados e guardem suas palavras para si mesmos. Logo, eles se condenam diante daquilo que aprovam.
Reforçamos nossa condenação de qualquer violência contra quem quer que seja (não por serem brancos ou negros, heterossexuais ou homossexuais, homens ou mulheres) por serem as pessoas criadas à imagem e semelhança de Deus. Ao mesmo tempo, seguimos a Bíblia como nossa regra de fé e prática e, quando eu abro esta Bíblia, ela não condena os sodomitas por não terem sido hospitaleiros com os estrangeiros que chegaram naquela cidade e, nem tampouco, ela condena os homossexuais que são infiéis com seus parceiros (interpretações que os seguidores deste comportamento pecaminoso procuram defender para justificar “de maneira cristã” seu pecado). Deus sempre condenou e condenará qualquer tipo de prática homossexual, assim como ele condena o adultério, a mentira, a corrupção e os demais pecados que emanam do coração que insiste em andar corruptamente e que, sem arrependimento e fé na obra de Cristo, destinará os que a elas aderem à perdição eterna.
Meu apoio à IPB, ao Rev. Augustus e ao Mackenzie por sua postura corajosa.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Agora, Oremos!!!


...exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens,em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito
(1Tm 2.1-2)

Não, não é uma ironia. Quero deixar qualquer opinião política de lado. As eleições passaram e, agora, temos uma líder que dirigirá nosso país durante os próximos 4 anos. Podemos não concordar com a linha ideológica à qual ela está ligada. Nos submeteremos a ela (e a qualquer outro que tenha o poder nas mãos) enquanto não nos proibir de seguir os preceitos bíblicos ou nos obrigar a desobedecê-los.

Como cristãos, agora cabe-nos o dever santo e prazeroso de orar por aqueles a quem Deus concedeu autoridade. Não importa se nos simpatizamos ou não com tal pessoa. Importa cumprir o que Deus nos diz:

1) Nós oramos pelo bem das próprias autoridades: Paulo diz que devemos orar em favor de todos os homens. Em seguida ele diz em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade. Se oramos em favor de alguém, é porque desejamos o seu bem. Desejar o bem é pedir pela saúde, pelo bem-estar, para que os que governam tenham sabedoria que vêm de Deus e dirijam a nação da melhor maneira possível. E há um desafio ainda maior em nossas orações em favor dos que governam: sua conversão. É por isso que Paulo registra em seguida que Deus deseja que todos os homens [segundo o contexto, toda CLASSE de homens e não a totalidade dos homens] sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade. Você e eu iremos orar para que essas pessoas conheçam a Cristo e entreguem sua vida a ele como Salvador?

2) Nós oramos para que tenhamos tranqüilidade: Nos próximos anos veremos as pessoas reclamarem dos salários, dos impostos, das situações nas estradas, da educação, da segurança. Muitas dessas reclamações serão até justas. Mas, poucos crentes se lembram que, antes de reclamarem devem orar pela vida das autoridades de nosso país. Por quê? Ora, o próprio texto diz: a fim de que vivamos vida tranqüila e mansa, com toda piedade e respeito [ou dignidade].

3) Nós oramos porque isso agrada a Deus : A própria Escritura nos diz que quer comais, quer bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus. (1Co 10.31). Paulo reforça a idéia no que diz respeito à oração pelos que têm autoridade em suas mãos. E é daqui que parte a grande motivação para que os governantes estejam entre os motivos pelos quais oramos: Deus, o nosso Senhor, ordenou e se satisfaz com isso.
Portanto, que os nomes de nossos governantes (não importa quem sejam eles) estejam entre os motivos das nossas orações nos próximos anos.

Rev. Laércio Rios Guimarães

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

LOUVANDO A DEUS COM O CORAÇÃO E A MENTE

Texto Base: Rm 12.1e 2.

INTRODUÇÃO

Quando tratamos de louvor lidamos com um assunto delicado e, ao mesmo tempo, mal compreendido dentro da igreja. Divisões, melindres, desentendimentos são resultados conhecidos em muitos lugares e que partiram desta área específica. Quero tratar deste assunto dentro de uma linha mais prática levando muito mais à conclusões a partir da Bíblia do que opiniões pessoais. Conclusões que possam levar cada um de nós a um louvor verdadeiro, louvor que agrada a Deus, louvor que toma como base a própria revelação dEle.

LOUVOR E VIDA

O texto tomado como referência mostra que a adoração e o louvor tem uma abrangência muito maior do que aquela com qual a maioria dos evangélicos está acostumada a lidar. Louvor não diz respeito somente aos momentos em que entoamos alguns cânticos no culto, mas também está ligado ao fato de que o crente é santuário do Espírito Santo. Desta forma, o louvor não diz respeito somente a alguns minutos de canções, mas a toda nossa vida.

Por isso, Paulo afirma que apresentar os corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, [é] o vosso culto racional. Não apenas isso, seu desafio é o de fazer com que a nossa mente seja transformada a fim de que esse culto seja completo. Logo, louvor, biblicamente falando, é fruto de uma vida segundo a vontade de Deus. É satisfazer aquele que nos salvou através de Cristo.

Como consequência prática, podemos atestar que o louvor proferido através dos cânticos e hinos (ou em qualquer momento do culto) por vidas que não fazem a vontade de Deus não é aquele que o agrada. Ao mesmo tempo podemos inferir que o culto congregacional desorganizado, desanimado, triste é fruto de uma vida da mesma forma. O culto dominical reflete a liturgia da nossa vida.

CORAÇÃO E MENTE

Estamos vivendo uma época em que as emoções são cada vez mais a diretriz da vida das pessoas. A reflexão sobre a verdade diminui enquanto a decisão por impulso irrefletido é estimulada. A propaganda (principalmente dirigidas aos jovens) usa muito deste artifício. Não à toa, Michael Horton diz que no protestantismo os grandes hinos foram substituídos por aquilo que só se pode descrever como imitações de propagandas de televisão. (HORTON, O Cristão e a Cultura, p. 73)

O louvor a Deus é algo muito mais completo e não pode ser levado somente pelas emoções. Ele se expressa tanto por elas (transformadas diga-se de passagem) quanto pela nossa mente (também transformada a fim de julgar todas as coisas, cf. Fp 4.8).

Não há nada de errado em se emocionar ao ouvir uma bela música ou a um concerto musical. Porém, a emoção não é o critério para música de adoração, pois a adoração não é para nós, e sim para Deus.

John MacArthur descreve bem o problema das emoções como guia do louvor ao registrar:

Algumas pessoas acham que este é o verdadeiro propósito do louvor congregacional: elevar as emoções a um fervor intenso. Quanto mais intenso for o sentimento, tanto mais as pessoas se convencerão de que “adoraram” verdadeiramente.
Em tudo isso, não há qualquer ênfase específica no conteúdo das músicas. Cantamos sobre “sentir” a presença de Deus entre nós, como se a elevação de nossas emoções fosse a principal maneira de confirmar a presença dele e de medir a força de sua visitação. Muitos dos cânticos dizem ao Senhor que Ele é grandioso e digno de louvor, mas nenhum deles afirma realmente por quê. Não importa;o objetivo é focalizar nossa mente em qualquer aspecto particular da grandeza de Deus. […]
Em outras palavras, a adoração é intencional e propositalmente antiintelectual. E a música reflete isso.1

Que tipo de música temos cantado e que tipo de adoração queremos prestar a Deus? Que ele tenha misericórdia de nós quando não usamos adequadamente a inteligência que foi concedida somente ao homem e, em especial ao crente que deve ter a “mente de Cristo”.

LOUVOR E ADORAÇÃO PRESCRITOS POR DEUS
O Louvor no culto ou na vida é dirigido a Deus e não ao próprio homem. Contudo, as músicas cantadas nas igrejas hoje, falam mais de nós mesmos do que a respeito de Deus. Somos “ególatras”. Os cânticos passam a refletir um foco autobiográfico, ou seja, minhas experiências, minha decisão, minha obediência, minha felicidade, e assim por diante. Não que essas coisas não sejam importantes e testemunhem do que Deus faz na vida dos crentes, mas, não têm relação com o verdadeiro louvor descrito por Deus e que agrada a Ele como o centro de todas as coisas e, no caso de que estamos discutindo, o centro da nossa adoração. 2

Talvez, um dos grandes problemas esteja no estilo de “imitação” tão propagada nos círculos evangélicos. A ideia “se dá certo lá fora, façamos também aqui dentro” explica o estilo empobrecido e chato de determinadas músicas. Confundindo aquilo que serve para Deus e aquilo que serve para a cultura criada pelo mesmo Deus acabamos por empobrecer os dois lados que devem mostrar a glória do Criador de maneiras diferentes. Exemplos não faltam: contraste as músicas românticas feitas por bandas populares enaltecendo o amor correto entre um homem e uma mulher com as “músicas românticas” evangélicas que falam sobre “deitar no colo de Deus”, “estar apaixonado por Ele”, “querer deitar em seus braços e ser por ele acariciado”. Facilmente se pode concluir quem surgiu primeiro e quem normalmente compõe melhor.

A igreja não tem o propósito de agradar as pessoas em primeiro lugar e seguir os preceitos de canções da cultura, mas de agradar a Deus e seguir os preceitos que Ele mesmo estabeleceu. Veja os textos: Ex 23.24-32; Ex 32.1-10, 21-24; Lv 10.1-32; 2 Sm 6.1-7

POBREZA NA CRIAÇÃO

Uma das maiores preocupações que devemos ter em cada letra de música é quanto ao julgamento de sua criatividade e beleza na escrita. Demasiadamente preocupados com a melodia esquecemos de nos perguntar se tudo o que está ali escrito é verdade (tendo como base a Escritura) e, ainda que seja verdade, se segue a lógica de um texto bem escrito.

Temos um texto bem escrito não só quando obedece a devidas regras gramaticais, mas quando, principalmente ele obedece a duas regras básicas: coesão e coerência. A coesão ocorre quando um texto obedece uma dada sequenciação entre palavras, frases, períodos e o texto. A coerência ocorre à medida em que as ideias do texto são decorrentes umas das outras, em que vou encontrando as linhas fundamentais de pensamento, em que vou descobrindo as idéias fundamentais do autor.

Infelizmente, muitos cânticos não obedecem esta regra prejudicando tremendamente o sentido e empobrecendo – se não até mesmo comprometendo – a mensagem.


SUGESTÕES PARA MÚSICAS SAUDÁVEIS NO CULTO3

Como já vimos, em tudo que fazemos buscamos a glória de Deus e, a melhor maneira de glorificá-lo é através dos preceitos de sua Palavra. Abaixo, portanto, seguem sugestões para guiar-nos a uma melhor avaliação da maneira que prestamos o culto através da música:

1) A Música da Igreja É Centralizada em Deus?

Ex 20.3-6; Sl 148.13

2) A Música da Igreja Promove uma Visão Elevada de Deus?

Is 40.12-26; Hb 10.31

3) A Música da Igreja É Realizada com Ordem?

A música cantada na igreja leva ao controle do Espírito ou ao descontrole emocional? 1 Co 14.40; Ef 5.18; Cl 3.16

4) O Conteúdo da Música da Igreja é Biblicamente Saudável?

As músicas cantadas devem sem biblicamente correta e inteligível. Sl 51.11

5) A Música da Igreja Promove a Unidade da Congregação Local?

A música na adoração coletiva visa a glória de Deus enquanto servimos uns aos outros. 1 Co 14.26; Fp 2.1-4

6) A Música da Igreja É Executada com Excelência?

Deus merece o melhor que possamos oferecer. 1 Co 10.31

7) A Música da Igreja Prepara as Pessoas para Ouvir a Palavra de Deus?

Cl 3.16-17

8) A Música da Igreja Adorna o Evangelho de Jesus Cristo?

A música na igreja deve testemunhar a grandeza de Cristo e não envergonhar o seu nome.

9) A Música de Sua Igreja Promove Adoração Fervorosa?

Ao mesmo tempo que a música deve levar a uma adoração centralizada em Deus, ela não precisa ser monótona, fria e insípida. Afinal Deus não é assim. (Jo 4.23)

10) A Filosofia de Música da Igreja Está Fundamentada em Princípios Bíblicos?

Muitos hoje fundamentam as músicas que serão cantadas de acordo com o gosto, o ritmo, a moda. Contudo, a fundamentação para a música na adoração deve ser a Escritura Sagrada

EXEMPLOS PRÁTICOS

Para terminar, faço uma relação de algumas músicas que julgo terem boa composição e, por isso, servirem como um guia para a escolha de outras, bem como, em um segundo momento, exemplifico outras que são, no mínimo, de gosto duvidoso. Você vai notar que algumas são novas e outras antigas (o que mostra que o problema já não vêm de hoje).

1) Boas Composições com Base Bíblica: São ricas em sua letras e composição. Fazem-nos refletir baseados no aspecto Bíblico e no relacionamento que devemos ter com Deus: Toma o Meu Coração; Que Sejas Meu Universo; O Meu Louvor é Fruto; Grande; Cantai ao Senhor.

2) Composições Ruins

Cada uma ao seu modo prestam um desserviço para a igrejas e grupos que dirigem-na a cantar. Veja:

a) Modismo: Fazem parte desse grupo aquelas que são compostas (uma atrás da outra diga-se de passagem) repetindo um refrão e um tema que não para de ser cantado. Não se sinta mal quando achar que já cantou uma música, mas ter o sentimento de que a letra pareça ter mudado. São músicas diferentes com a mesma frase se reptindo. Exemplo: Faz Chover (observação: houve um tempo em que fiquei com medo de que a igreja onde sou pastor ficasse inundada de tanto que apareciam músicas pedindo para Deus fazer chover. Bem, também me sentia como numa tribo indígena suplicando que chovesse na minha terra: uga! Uga!)

b) Falta de Coesão: Bem, temos aqui aquele grupo de músicas que maltratam a nossa amada língua portuguesa. Isso não é uma marca só de cânticos (alguns hinos também fazem isso), mas há algumas letras que são, simplesmente, irritantes. O “clássico” Me Derramar é um exemplo disto. Note o ponto: No calor deste lugar, quero me derramar, dizer que te amo, me derramar dizer TI preciso. Sem comentário...

c) Antropocêntrico: São músicas que até poderiam ser cantadas em uma ocasião social, numa aula sobre comunhão ou temas que tratam de relacionamentos horizontais. Mas, as pessoas insistem em cantar no momento do culto, onde Deus deve ser o centro da nossa adoração. Dê uma olhada na letra de Corpo e Família e você entenderá muito bem o que quero dizer.

d) Incoerência Bíblica: Temos muitas deste tipo, que não têm a mínima preocupação com o aspecto bíblico, aliás penso eu que é a última coisa que esses compositores verificam. Dois exemplos: o primeiro é o famoso Deus de Aliança que em um determinado momento em sua letra registra: és Deus de perto e não de longe. O que terá acontecido com o texto de Jeremias 23.23? O outro exemplo é famoso e já rendeu todo tipo de melodia. Como Zaqueu. A letra é tão desprovida de base bíblica que não dá sequer para adaptar.

e) Falta de Coerência Textual: Classifico este grupo como “Samba do Crioulo Doido”. Explico: as partes parecem ter sido forçosamente grudadas uma na outra. Isoladas talvez fossem boas, mas juntas formam um “Frankestein” da música “gospel”. Essa eu terei que descrever um pouco mais através do exemplo. A música é Bem Aventurado de Aline Barros:
Bem-Aventurado é o Que Está
Firmado em Sua Casa
Aqueles que o louvam
Cujo coração está no nosso Deus
Bem-aventurado é o que tem
Sede da justiça de Deus,
Aqueles que são filhos da luz
Cujo a força vem do nosso Deus (Tema: Quem é o Bem-aventurado)

Que o Teu reino venha sobre nós
Queremos Tua glória sobre nós (Tema: Desejo da Presença de Deus)

Ouve, oh Deus
Nossa oração, Altíssimo
Sara essa nação
É o clamor da igreja que te adora (Tema: Oração Pedindo pela Nação)

Só tú és Santo,
Só tú és Santo,
Só tú és Santo, Senhor (Tema: Declaração da Santidade de Deus)

Veja quantos temas diferentes numa mesma música, sendo que, ao menos para mim (corrijam-me COERENTEMENTE – desculpe o trocadilho – e irei rever meu ponto de vista)

f) Exaustivo: São os tipos de música em que nos perguntamos: eu já não disse isso pelo menos duas vezes? O exemplo mais claro deste tipo é a música Quero Louvar-te. Muda-se o louvar-te por servir-te, depois por amar-te, depois por buscar-te e por aí vai, de acordo com o gosto e a região de nosso país.


1John MacArthur, Ouro de Tolo?, p. 131
2...a característica narcisista (que adora a si mesma) da América moderna (…) se exibe através de uma personalidade altamente expressiva. (M. Horton, O Cristão e a Cultura, p. 74)
3Retirado da Obra citada de John MacArthur, p. 136-140.